sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Imagens do Malê







Histórico do Malê


O Malê Debalê nasceu de jovens moradores de Itapuã, em consonância com outros que residiam em outros bairros, como o Garcia e o Tororó. De fora, os jovens traziam a vivencia de outras entidades culturais negras, como o Melô do Banzo, Apaches do Tororó, Ilê Aiyê, Badauê, Diplomatas de Amaralina, entre outros. Tais vivências, portanto, foram se moldando ao jeito “itapuazeiro” de ser, construindo assim o cimento necessário para a criação de uma entidade que além de carnavalesca e promotora de valores e significados da Cultura negra, também fosse um espaço de afirmação positiva da história e do sentido do bairro de Itapuã, da lagoa do Abaeté e arredores. Assim, o próximo passo seria o nome da entidade. Segundo os fundadores da entidade, o nome “Malê” representava uma homenagem aos negros muçulmanos que, em 1835, realizaram, um importante feito na história do Brasil, intitulado de Revolta dos Malês. Em estudos mais recentes, o bairro de Itapuã também foi palco de combate e enfrentamentos entre negros Haussas (muçulmanos) e os senhores de engenho. Tal conflito, em 1814, sugere um indicativo da presença de negros muçulmanos, portanto Malês, nos arredores de Itapuã, anterior á Revolta propriamente dita.
O nome “DEBALÊ” traz uma explicação bastante singular. Ainda que muitos atribuíssem a uma série de possibilidades, o que vigora na versão contada por tais fundadores é uma explicação diferente. Segundo Josélio de Araújo, atual presidente e membro fundador, a palavra Debalê é uma criação deles próprios e traduz uma conotação de “positividade”, felicidade, ou qualquer tradução de caráter afirmativo.
Do ponto de vista religioso, o mentor espiritual, responsável pelos primeiros passos e pelo caminhar da entidade chama-se Sr. Valtinho e sua Casa de Terreiro é chamada de IBA FARA OMI e significa Casa das Águas.
Assim, é possível afirmar que a história do Malê Debalê se confunde com os mistérios da Lagoa do Abaeté, fonte de inspiração e afirmação de uma comunidade composta por pescadores, lavadeiras, quituteiras, artesãos e artistas. Aqui um, espaço de possibilidades e encantos.

MALÊ DEBALÊ, 30 ANOS: A QUEM INTERESSA OS BLOCOS AFROS?

Salvador é a maior cidade negra fora do continente africano, tem um forte apelo da cultura afro descendente, explora comercialmente essa peculiaridade, expondo assim, em todo o mundo, as simbologias da cultura afro baiana, o que de certo reforça reforçando o estigma de ser uma verdadeira “Roma negra”. Por conseqüência, o carnaval de Salvador, que é “a maior festa popular do mundo”, deveria ser uma festa com uma marca africana forte e respeitável, afinal o governo precisa fortalecer esse marketing, não só no Brasil, mas principalmente para as demais nações no Planeta. Porém, não o faz. Não o faz porque existem os abnegados que se auto intitularam defensores e preservadores da cultura afro descendente, assim como da moralização e fortalecimento da auto-estima do povo negro da nossa terra, inventaram uma “coisa” chamada Bloco Afro. Ora, o governo não se importa com as “invencionices” de negros e negras, mas mesmo assim os negros vão às ruas marcar o Carnaval, por suas próprias contas e riscos. Tudo ia, mas ou menos bem, até quando resolvem “organizar e profissionalizar o carnaval”, uma forma simples e clara de “limpar a festa”. A partir daí, entram os profissionais de comércio e economia e descobrem que pra ganhar rios de dinheiro, precisam da cultura negra, mas não dos negros. E os Blocos afros e afoxés? Os hercúleos diretores encontram nos seus caminhos e na luta pela sobrevivência, um exército bem treinado de: artistas, jornalistas, empresários, políticos, governo e uma classe média com influências racistas bem acentuadas.

Mesmo assim os blocos afros estão no limiar dos 35 anos Ilê Aiyê, 30 anos de Malê Debalê, 30 anos do Olodum e tantos outros, atravessando a maior crise de suas histórias, por conta do desrespeito a herança cultural, ao trabalho e a dignidade do povo negro. Propostas de apoios, subvenções e patrocínios imorais, além de um patrulhamento meticuloso às nossas ações.

Resumindo, ficamos com as responsabilidades que nos são destinadas: trabalhos sociais nas nossas comunidades, representar a Bahia quando o governo precisa esconder o lixo debaixo do tapete, colocarmos uns poucos dos nossos enfeitando os blocos dos brancos para afirmação da “democracia racial”, doarmos as nossas músicas e as nossas danças para os “profissionais” transformarem em dinheiro.

Blocos afros são caros, muito caros, nossas fantasias são as mais caras, as nossas bandas são as mais numerosas (média de 100 componentes), nossos trios são iguais a todos os outros, ainda temos alas de danças e toda uma comunidade a quem doamos fantasias, a única diferença, é na hora da captação, aí nós somos menores, recebemos em média dois ou três zeros a menos.

Há interesse nos blocos afros, a quem interessa?